terça-feira, 16 de abril de 2013

Cortisol

Provavelmente, já terão lido algumas coisas sobre esta hormona no nosso blog mas hoje apresento um post dedicado, exclusivamente, ao Cortisol e tudo o que precisa de saber sobre esta cortisona.

Se já tiverem lido alguns dos meus posts anteriores, saberão que níveis elevados de Cortisol conduzem a perdas de massa magra e a um aumento da gordura abdominal - ambas, consequências que nenhum de nós deseja. No entanto, níveis demasiado reduzidos de Cortisol também não são aconselháveis, uma vez que conduzem a fadiga crónica.

Vamos começar por perceber melhor os aspectos básicos do Cortisol e como níveis alterados desta hormona afectam o nosso organismo.

Cortisol é um glicocorticóide, mais conhecido como hidrocortisona, produzido no córtex adrenal em resposta a situações stressantes, quer sejam físicas ou emocionais, ou em resposta aos ciclos naturais relacionados com o ciclo circadiano.

Estrutura Química do Cortisol
Esta hormona é feita de colesterol e a sua formação e libertação é controlada pela hormona adrenocorticotrópica. O Cortisol ajuda-nos a levantar da cama de manhã e a funcionar dia após dia. Os picos de Cortisol são verificados, normalmente, por volta das 8h da manhã. À medida que o dia for passando, os níveis vão reduzindo, atingindo o mínimo por volta das 3h ou 4h da manhã.

O papel do Cortisol no nosso organismo é importantíssimo quando se trata de gerir o stress. Esta hormona ajuda-nos a lidar com o stress ao desligar sistemas ou funções corporais, naquele momento, desnecessárias, como o sistema reprodutor ou imunitário. Desta forma, o nosso organismo consegue direccionar todas as energias que tem para lidar com o stress ou problema que tem pela frente. Estes efeitos são de curta-duração; servem apenas para lidar com o problema naquele momento. No entanto, nos dias que correm, as nossas vidas são tudo menos livres de stress, podendo mesmo estar sujeitas a stress crónico, pelo que o Cortisol poderá passar de hormona auxiliar a problemática.

Agora, vejamos como é que o Cortisol afecta o nosso organismo nesses momentos de stress.

O Cortisol estimula a gliconeogénese (formação de novo açúcar) no fígado, através da utilização de aminoácidos, lactato, glicerol e propionato. O Cortisol está também ligado à glicogenólise, correspondente à destruição das reservas de glicogénio no fígado e nos músculos, a qual é necessária para completar todo o processo, uma vez que activa a enzima glicogénio fosforilase. O Cortisol impede também que a insulina "injecte" glucose nas células. Tudo isto resulta num aumento dos níveis de açúcar no sangue.

Estes aspectos até seriam óptimos para os nossos antepassados, se estivessem a fugir de um tigre dentes de sabre, ou de um urso. No entanto, são desnecessários para quem, no nosso caso, se sente stressado por ter um trabalho para entregar, um teste para estudar ou uns impostos para pagar.


Em relação ao sistema imunitário, este também tende a desligar-se quando os níveis de Cortisol são elevados. Esta hormona interfere com a produção e funcionamento das células-T, conduzindo a uma maior susceptibilidade do seu corpo ser invadido por patogénios. Com certeza já reparou que quando uma pessoa se encontra mais stressada tem uma maior tendência para adoecer. Adicionalmente, tenderá a voltar a adoecer, às vezes de forma ainda mais intensa, logo após ter controlado a infecção ou irritação. Muitas vezes, poderão pensar que é apenas azar - mas será que é apenas azar ou será que o seu corpo está a sofrer as consequências de uma vida demasiado stressante?

Não é só o nosso sistema imunitário que é afectado pelo Cortisol; os ossos e os músculos são também alterados pelos níveis desta hormona. Esta cortisona impede a absorção de aminoácidos por parte das células musculares, tornando-se quase impossível "alimentar" as células muscular quando os níveis de Cortisol são elevados. Impede também a formação de osso e diminui a absorção de Cálcio no intestino. Resumindo, quando os níveis de Cortisol são elevados, quase não existe formação muscular ou óssea!

A pressão sanguínea eleva-se, também, quando os níveis de Cortisol são maiores. Isto deve-se ao facto do Cortisol sensibilizar o nosso organismo à acção da epinefrina e da norepinefrina, conduzindo a uma vaso-constrição ou a uma redução do fluxo sanguíneo, em várias partes do corpo. Serve também como um anti-diurético, levando a uma retenção superior de Sódio. Mais uma vez, estes aspectos são excelentes em situações stressantes pontuais. Agora, quando o stress é crónico, tensão arterial elevada e retenção de líquidos não são, propriamente, sinais de um organismo saudável.

Apresento, agora, mais alguns aspectos alterados pelo Cortisol no nosso organismo. Mais uma vez, em situações pontuais, estas consequências são boas. No entanto, a longo prazo, são totalmente indesejáveis:
  • A produção de Cortisol, tanto elevada como reduzida, conduz a alterações na produção de hormonas da tiróide e na conversão de T4 (tiroxina) para T3 (triiodotironina);
  • Cortisol conduz a uma produção intensa de ácido gástrico. Quando crónico, isto poderá conduzir a refluxo gástrico ou úlceras. A redução do fluxo sanguíneo para o trato intestinal poderá, também, conduzir a problemas digestivos;
  • O Cortisol afecta, gravemente, o sistema reprodutor, podendo levar, em casos extremos, a infertilidade ou abortos;
  • Ao desligar o sistema reprodutor, adivinhem que hormona é, também, afectada... a Testosterona, uma das hormonas mais importantes para garantir ganhos de massa muscular;
  • O Cortisol conduz a uma redução da inflamação ao reduzir a secreção de histamina;
  • Níveis elevados de Cortisol poderão conduzir a uma sensação intensa de fome e desejos alimentares menos saudáveis, uma vez que altera o metabolismo - excelente se tiver corrido montanha acima a fugir de algum animal selvagem; mau se tiver estado sentado o dia todo no escritório a escrever no computador!
Vejamos, agora, como é que os níveis de Cortisol podem ficar descontrolados.

Normalmente, quando o Cortisol atinge determinados níveis, os sinais que conduzem à formação desta hormona são, imediatamente, desligados, limitando, assim, a formação de mais Cortisol - isto acontece, mais ou menos, da seguinte forma:

O hipotálamo, quando "sente" que se encontra numa situação problemática, produz a hormona libertadora de corticotropina, a qual, por sua vez, estimula a glândula pituitária anterior a produzir a hormona adrenocorticotrópica, a qual irá estimular a glândula adrenal a produzir Cortisol.

Quando os níveis de Cortisol atingem determinado valor, é enviada uma "mensagem" ao hipotálamo e à glândula pituitária anterior que o organismo já está sobrecarregado de Cortisol e que a sua produção deverá, então, parar.

Agora, se o stress for crónico, este sistema de controlo dos níveis de Cortisol pode ficar um pouco desregulado. Da mesma forma que se comer todos os dias comidas demasiado doces, ou ingerir elevadas quantidades de açúcar, o seu organismo tenderá a ficar resistente à insulina, também se passar a maior parte dos dias com níveis elevados de stress, o seu organismo tenderá a ficar desregulado no que toca ao mecanismo de controlo dos níveis de Cortisol.

Concluindo, sem Cortisol os nossos organismos não conseguiriam reagir convenientemente às situações problemáticas do dia-a-dia. Contudo, se abusarmos dos nossos corpos e/ou mentes, eventualmente, pagaremos o preço - os níveis de Cortisol no nosso organismo tenderão a ficar descontrolados e, consequentemente, a nossa saúde sairá prejudicada.

Da próxima vez que dormir só 4h e for para o ginásio, ou tiver já demasiado trabalho mas, mesmo assim, aceitar mais um, pense nas potenciais consequências de exigir demais do seu corpo e mente... 

Adaptado de: Bennington V. , breakingmuscle.com

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